quarta-feira, agosto 26, 2009

E quando o sol vier socar minha cara...♫♪


♫♪
Nestas horas pega mal sofrer
Da privada eu vou dar com a minha cara
De babaca pintada no espelho
E me lembrar - sorrindo - que o banheiro
É a igreja de todos os bêbados
Eu ando tão down...


*

segunda-feira, agosto 24, 2009

Ele disse que não me amava, vc entende isso?

Relatos
Brother, ele disse que não me amava, vc entende isso? Mas como foi a conversa de vcs, me conta. Ok. Eu te conto tudo. Na verdade eu não liguei pra ele. Mas, então, como vcs se falaram? Ah, a gente se falou online, ele estava no msn. Ah, sim, então foi pelo messenger a conversa? Sim, foi. Eu de cara disse que sentia falta dele, que ele estava sumido e tal - aquela brincadeira com um fundo de verdade, entende?...Vc sabe, né? Toda vez que ele me liga (isso uma vez por semana ou nem isso) eu fico completamente louca: me falta o ar, o chão... eu sempre voo até a casa dele e depois de tudo, de dormir de conchinha, de comer sorvete na cama, de falar e falar e falar, é nas nuvens que eu volto pra casa. Mas o que ele disse, afinal? Ah, ele disse que é isso mesmo. Isso o quê? Pensei. Ah, ele falou que eu deveria entender as 'entrelinhas', que certas coisas não precisavam ser ditas. E blá-blá-blá. Mas o que está escrito nas entrelinhas? Se vc não diz, não se sabe, certo? Certo. Acho que o óbvio não existe. Ele existe? (pausa). Quando a gente estava junto ele sempre comentava sobre namoro. Não falava nada específico, sabe, mas falava. Tava lá a palavra: na-mo-ro. Ele também falava de mulheres interessantes da tv e a preferência pelas 'malhadas'. Ok, eu comecei a malhar por causa dele. Queria estar incrível! Ah, mas a malhação eu vou continuar, né? Não posso me entregar agora, imagina: embagulhar depois do fora (?) Nunca! É, aquele puto nem me preservou, saiu falando mesmo. Eu disse que gostava de estar com ele, que aqueles encontros furtivos estavam significando muito pra mim, mas ele não disse nada. Vc entende isso: ele nada! (?) Só foi capaz de escrever que não sentia o mesmo...e aquilo me doeu tanto. Ele nem se lamentou! O babaca não se lamentou pela conversa e pelo possível ponto final do nosso momento sagrado. Ele não se importou. Depois teve a coragem de escrever um 'fica bem'. Ficar bem? Eu?! Como, me diz? Ele poderia ter sido mais...mais...sabe, eu não falaria isso na lata pra ninguém, eu não falaria! Uma vez aconteceu de um carinha estar afim de engatar um namoro comigo, mas não tinha rolado nenhum sentimento especial com ele - eu pelo menos não senti para dar continuidade à história, sabe. Na verdade o sexo era péssimo, eu não gostava do...enfim. A questão foi que quando ele (o carinha) quis dar o xeque-mate na nossa relação e saber o que estávamos vivendo e tal, eu fui cheia de dedos pra dizer que não tínhamos um futuro juntos. Nesse momento a única coisa que ecoa na minha cabeça é a maldita frase: "eu não sinto o mesmo." Desse jeito mesmo, sem desculpas, sem nada: na lata. Aquilo foi um tiro.

(Adriana Schimit in Contos para Ninguém)

♫♪ Nem sempre ganhando. Nem sempre perdendo. Mas aprendendo a jogar. Vivendo e aprendendo a jogar...♫♪ ♫♪♫

quinta-feira, agosto 20, 2009

O que o coração não sente, os olhos não veem

Um merda. Era assim que ele se definia depois de um (longo) dia de trabalho. A cabeça latejava toda vez que a sua (infeliz) gerente gritava "pobrema"do alto da escada principal que dava de frente para sua mesinha de trabalho, junto à quina da parede. Como desejava ser aquela parede para não ter ouvidos. Ou ter a cabeça dessa gerente (escandalosa) entre as suas mãos para dar-lhe o fim que a sua imaginação fértil desejasse. O mundo não era justo: fez faculdade, pós graduação, MBA, cursos no exterior - viajou o mundo para quê? Para estar ali mofando? Para ganhar mal e ser tratado como um merda todos os dias? Não, não era ódio o que ele sentia, era horror. Decepção. Temia estar ali entre pilhas de folhas sem destino no meio de salas empoeiradas e gente sem critério. Na verdade, temia ser esquecido ou pior, se esquecer. Tinha medo de ficar burro, de assimilar negativamente aquela atmosfera de risos soltos e falta de dentes. Mas no ápice do seu desgosto ele sempre lembrava que era dali que saia o seu sustento, suas contas pagas e relaxava. Pelo menos estava empregado, era melhor pensar assim. Outro dia, perto do fim do ano, foi tomar um chope com os colegas de trabalho. Bebeu, bebeu, bebeu como se não houvesse amanhã, como se quisesse se afogar no próximo copo que nunca chegava. Nessa euforia descabida foi parar em uma 'boate de fim de tarde' - dessas que também funcionam como churrascaria. Amanheceu em um quarto barato de motel no Centro. Abriu os olhos e a cabeça estava pesada-pesada, provavelmente ainda com os restos da bebedeira da noite anterior. Avistou uma calcinha rosa furada no canto direito do seu travesseiro. Registrou a cena e teve medo, por isso nem quis se mexer. Temeu a vida naquele momento e permaneceu imóvel. Não olhou para o lado: olhar pra quê? Pensou. Nada do que pudesse pensar ou lamentar mudaria a história. Até que ele sentiu uma respiração quente nas costas, um braço roçando a sua pele e uma intimidade forçada pela frase que seguiu: 'ném, pega pra mim a minha calcinha aí do seu lado?' Ele permaneceu estático. Quis diminuir a respiração ofegante pela tensão, mas não conseguiu. Tentou pensar nas estrelas, em cubos de gelo, no mar, no horizonte...em tudo que pudesse trazer um pensamento de paz. Fechou os olhos e fingiu dormir like a angel. Em seguida uma movimentação esquisita na cama. Silêncio. Continuou quieto, olhos fechados. A porta do banheiro bateu. Ficou mais um tempo quieto, até que escutou o barulho do chuveiro. Aproveitou a deixa, pegou a sua calça pendurada na cadeira, sua camisa no chão, as chaves do carro que estavam na cabeceira, relógio e casaco. E saiu na ponta dos pés. Bateu a porta do quarto sem fazer alarde...

(Adriana Schimit in Contos para Ninguém)

*

O filme

Ela queria ser um filme. Sempre quis. Julgava a sua trajetória uma boa história para ser contada: era alegre do tipo festeira, sensual, espontânea. Costumava fechar os olhos para imaginar uma grandiosa cena registrada em uma tarde comum. No ato, ela sairia com um vestido longo (estampado e esvoaçante), completamente louca, às pressas pela rua com os cabelos castanhos ao vento ora close e pessoas ora close e prédios ora vasos de flores e close ora a velhinha na esquina e o close. Como era bela a menina! Seu sorriso iluminava a tarde. E o olhar? Era encantador...parava o tempo à medida que olhava os transeuntes. Embora festiva, ela sentia a vida curta no peito. Imaginava lugares, falas, situações. Ficava enrubecida com as passagens que criava: eram tão reais! Mas ela pensava tanto, mas tanto, que não saia do lugar. E agarrava com unhas e dentes o seu pouco como se no minuto seguinte tudo estivesse fadado a virar pó. Não era difícil perceber que a menina estava entre pessoas sem histórias - ou histórias que não importavam para ela. Ser um filme, pensava, seria a única possibilidade de recriar novas esperanças para ser (de novo e quantas vezes quisesse) ela mesma - ou uma outra pessoa qualquer. Criara um mito. E dia após dia alimentava o monstro com cenas de tensão e prazer.

(Adriana Schimit in Contos para Ninguém)

*

terça-feira, agosto 18, 2009

Da estética, por Albert Watson ☀












Eu adoro fotografia. Mas isso não é novidade para quem me conhece...
Ultimamente percebo um movimento (no mínimo) curioso de algumas pessoas sobre o quisito estética. Não que a estética tenha que ser o primeiro e único plano da vida de alguém, mas ela não pode (nunca) estar no último degrau de prioridades - e isso é um fato. Pensar em beleza é ver suavidade naquilo que nos propomos a fazer, ser, estar e outros afins. Dizer que isso não é importante é o mesmo que negar a vida. Estamos seduzindo o outro o tempo todo através de palavras, imagens ou sons. Acho patético remar contra isso, se dizer contra, tacar pedra, fazer forfait.

De alho para bulgalho: hj descobri mais um fotógrafo com um excelente olhar, Albert Watson. Claro que nem todas as fotos são magníficas, mas cada uma tem a sua onda. Posto algumas aqui e as outras só mesmo no site oficial. Bjosss!

* Feliz dia mundial da fotografia!
;-)

segunda-feira, agosto 03, 2009

O que, o que, o quê?

“O olhar do homem pousa agora sobre a parte de dentro do homem
e o vê do mundo exterior.

Essa pedra não vale nada para agir. Ela está em nós.
Essa pedra não tem peso nenhum nela mesma,
a não ser que eu a carregue. Ou você. Dá no mesmo.

Caídas do céu ou não, ou dispostas por acaso,
as pedras daqui não têm mais peso nenhum
e jazem sem nem terem ainda a força de se mexer.

Assim: impossível que um ator faça durante muito tempo
o morto sem se mexer... e no entanto, grande é sua vontade.

Será que essa pedra é tempo?

Meu cadáver não tem resposta.
Cada manhã em que me encontro no mundo,
tenho que achar o espaço que corresponde a meu cérebro:
e devo achar, no meu cérebro, o espaço em buraco correspondente.
Durante trinta anos, tive que ir todo dia frente a essa pedra,
para que ela me confirmasse que o real existe. Hoje eu acredito nisso.”

“Então sentei e disse às pedras: a ação é maldita.”

(Valère Novarina)
Trechos de textos de Valère Novarina: Je suis (Paris: POL, 1991) e Discurso aos animais - A inquietude (Inimigo Rumor, nº 13, Rio: 7 Letras, 2003).
*

Nota solta: no mínimo Ateliê Voador é uma peça intrigante. Excelente texto, sem dúvida.

sábado, agosto 01, 2009

A oração curta penetra no céu

Um homem ou uma mulher, repentinamente apavorado por fogo, ou morte, ou o que for, é repentinamente, nesse transe do espírito, levado precipitada e forçosamente a gritar ou pedir ajuda. E como ele faz isso? Certamente, não com uma torrente de palavras; nem mesmo com uma única palavra de duas sílabas! Por quê? Ele acha que isso leva tempo demais para anunciar sua necessidade urgente e sua agitação. Assim, ele explode em seu terror com uma pequena palavra, e essa de uma só sílaba: “Fogo!”, talvez seja, ou: “Socorro!”* Exatamente como essa pequena palavra desperta e atravessa os ouvidos daqueles que ouvem, assim também faz uma pequena palavra de uma sílaba, quando não é apenas pronunciada ou pensada, mas exprime igualmente a intenção no fundo do nosso espírito.
(The Cloud of Unknowing, capítulo 37 - trata-se
de manual de instrução espiritual escrito por um monge inglês anônimo na segunda metade do século XIV).

As pérolas

A ociosidade, a miserável ociosidade daqueles interrogatórios.
- ‘Você está bem?’ O sorriso postiço.
- ‘Estou bem’.
A insistência era necessária.
‘Bem mesmo?’
- Oh, Deus! ‘Bem mesmo.’
A pergunta exasperante:
- ‘Você quer alguma coisa?’
A resposta invariável:
- ‘Não quero nada.’

‘Não quero nada, isto é, quero viver. Apenas viver, minha querida, viver...’ Com um movimento brando, ele ajeitou a cabeça no espaldar da poltrona. Parecia simples, não? Apenas viver.

(Lygia Fagundes Telles in Antes do Baile Verde,1970).

Das coisas impossíveis


Fofinho...

Aquela máxima que diz que 'quem espera demais nunca casa', é verdade. Depois de um tempo na espera, tem gente que se cansa e vai para outras histórias - não necessariamente histórias para serem sérias, mas passatempos que não lhes custem o tempo nem dedicação...parabéns para os convites feitos e para os sins! A vida é feita disso, de coragem, porque esperar cansa.