sábado, agosto 01, 2009

A oração curta penetra no céu

Um homem ou uma mulher, repentinamente apavorado por fogo, ou morte, ou o que for, é repentinamente, nesse transe do espírito, levado precipitada e forçosamente a gritar ou pedir ajuda. E como ele faz isso? Certamente, não com uma torrente de palavras; nem mesmo com uma única palavra de duas sílabas! Por quê? Ele acha que isso leva tempo demais para anunciar sua necessidade urgente e sua agitação. Assim, ele explode em seu terror com uma pequena palavra, e essa de uma só sílaba: “Fogo!”, talvez seja, ou: “Socorro!”* Exatamente como essa pequena palavra desperta e atravessa os ouvidos daqueles que ouvem, assim também faz uma pequena palavra de uma sílaba, quando não é apenas pronunciada ou pensada, mas exprime igualmente a intenção no fundo do nosso espírito.
(The Cloud of Unknowing, capítulo 37 - trata-se
de manual de instrução espiritual escrito por um monge inglês anônimo na segunda metade do século XIV).

As pérolas

A ociosidade, a miserável ociosidade daqueles interrogatórios.
- ‘Você está bem?’ O sorriso postiço.
- ‘Estou bem’.
A insistência era necessária.
‘Bem mesmo?’
- Oh, Deus! ‘Bem mesmo.’
A pergunta exasperante:
- ‘Você quer alguma coisa?’
A resposta invariável:
- ‘Não quero nada.’

‘Não quero nada, isto é, quero viver. Apenas viver, minha querida, viver...’ Com um movimento brando, ele ajeitou a cabeça no espaldar da poltrona. Parecia simples, não? Apenas viver.

(Lygia Fagundes Telles in Antes do Baile Verde,1970).