segunda-feira, agosto 03, 2009

O que, o que, o quê?

“O olhar do homem pousa agora sobre a parte de dentro do homem
e o vê do mundo exterior.

Essa pedra não vale nada para agir. Ela está em nós.
Essa pedra não tem peso nenhum nela mesma,
a não ser que eu a carregue. Ou você. Dá no mesmo.

Caídas do céu ou não, ou dispostas por acaso,
as pedras daqui não têm mais peso nenhum
e jazem sem nem terem ainda a força de se mexer.

Assim: impossível que um ator faça durante muito tempo
o morto sem se mexer... e no entanto, grande é sua vontade.

Será que essa pedra é tempo?

Meu cadáver não tem resposta.
Cada manhã em que me encontro no mundo,
tenho que achar o espaço que corresponde a meu cérebro:
e devo achar, no meu cérebro, o espaço em buraco correspondente.
Durante trinta anos, tive que ir todo dia frente a essa pedra,
para que ela me confirmasse que o real existe. Hoje eu acredito nisso.”

“Então sentei e disse às pedras: a ação é maldita.”

(Valère Novarina)
Trechos de textos de Valère Novarina: Je suis (Paris: POL, 1991) e Discurso aos animais - A inquietude (Inimigo Rumor, nº 13, Rio: 7 Letras, 2003).
*

Nota solta: no mínimo Ateliê Voador é uma peça intrigante. Excelente texto, sem dúvida.