terça-feira, setembro 29, 2009

A memória

O fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson é considerado o pai do fotojornalismo. Cheio de filosofias (nada baratas), o cara entendia que ele era apenas um instrumento para perpetuar uma imagem qualquer. Bresson considerava o portrait a coisa mais difícil de se fazer dentro do universo fotográfico: "você tem que tentar colocar a sua câmera entre a pele da pessoa e a camisa dela", dizia. A foto é uma memória do que queremos - ou não - lembrar.

A seguir: fotos de alguns momentos decisivos onde a atenção do fotógrafo e seus cliques incansáveis foram fundamentais para obter um resultado satisfatório. Além, é claro, de algumas frases interessantes do sr. Bresson...


"Thinking should be done before and after, not during photographing. Success depends on the extent of one's general culture. one's set of values, one's clarity of mind one's vivacity. The thing to be feared most is the artificially contrived, the contrary to life."



"The photograph itself doesn't interest me. I want only to capture a minute part of reality."


 

"Thinking should be done before and after, not during photographing. Success depends on the extent of one's general culture. one's set of values, one's clarity of mind one's vivacity. The thing to be feared most is the artificially contrived, the contrary to life."

  

"I'm not responsible for my photographs. Photography is not documentary, but intuition, a poetic experience. It's drowning yourself, dissolving yourself, and then sniff, sniff, sniff – being sensitive to coincidence. You can't go looking for it; you can't want it, or you want get it. First you must lose your
self. Then it happens."

  

"Memory is very important, the memory of each photo taken, flowing at the same speed as the event. During the work, you have to be sure that you haven’t left any holes, that you’ve captured everything,
 because afterwards it will be too late."

   

"Of all the means of expression, photography is the only one that fixes a precise moment in time. We play with subjects that disappear; and when they’re gone, it’s impossible to bring them back to life. We can’t alter our subject afterward.... Writers can reflect before they put words on paper.... As photographers, we don’t have the luxury of this reflective time....We can’t redo our shoot once we’re back at the hotel. Our job consists of observing reality with help of our camera (which serves as a kind of sketchbook), of fixing reality in a moment, but not manipulating it, neither during the shoot nor in the darkroom later on. These types of manipulation are always noticed by anyone with a good eye."

 

"Think about the photo before and after, never during. The secret is to take your time. You mustn't go too fast. The subject must forget about you. Then, however, you must be very quick. So, if you miss the picture, you've missed it. So what?"

  

"The difference between a good picture and a mediocre picture is a question of millimetres – small, small difference. But it’s essential. I don’t think there’s so much difference between photographers, but it’s that little difference that counts, maybe."

*

"You are asking me what makes a good picture. For me, it is the harmony between subject and form that leads each one of those elements to its maximum of expression and vigor."

  

"In photojournalistic reporting, inevitably, you’re an outsider."



[1908 – 2004]

domingo, setembro 27, 2009

O silêncio das sereias

Prova de que até meios insuficientes - infantis mesmo podem servir à salvação:

Para se defender da sereias, Ulisses tapou o ouvidos com cera e se fez amarrar ao mastro. Naturalmente - e desde sempre - todos os viajantes poderiam ter feito coisa semelhante, exceto aqueles a quem as sereias já atraíam à distância; mas era sabido no mundo inteiro que isso não podia ajudar em nada. O canto das sereias penetrava tudo e a paixão dos seduzidos teria rebentado mais que cadeias e mastro. Ulisses porém não pensou nisso, embora talvez tivesse ouvido coisas a esse respeito. Confiou plenamente no punhado de cera e no molho de correntes e, com alegria inocente, foi ao encontro das sereias levando seus pequenos recursos.

As sereias entretanto têm uma arma ainda mais terrível que o canto: o seu silêncio. Apesar de não ter acontecido isso, é imaginável que alguém tenha escapado ao seu canto; mas do seu silêncio certamente não. Contra o sentimento de ter vencido com as próprias forças e contra a altivez daí resultante - que tudo arrasta consigo - não há na terra o que resista.

E de fato, quando Ulisses chegou, as poderosas cantoras não cantaram, seja porque julgavam que só o silêncio poderia conseguir alguma coisa desse adversário, seja porque o ar de felicidade no rosto de Ulisses - que não pensava em outra coisa a não ser em cera e correntes - as fez esquecer de todo e qualquer canto.

Ulisses no entanto - se é que se pode exprimir assim - não ouviu o seu silêncio, acreditou que elas cantavam e que só ele estava protegido contra o perigo de escutá-las. Por um instante, viu os movimentos dos pescoços, a respiração funda, os olhos cheios de lágrimas, as bocas semi-abertas, mas achou que tudo isso estava relacionado com as árias que soavam inaudíveis em torno dele. Logo, porém, tudo deslizou do seu olhar dirigido para a distância, as sereias literalmente desapareceram diante da sua determinação, e quando ele estava no ponto mais próximo delas, já não as levava em conta.

Mas elas - mais belas do que nunca - esticaram o corpo e se contorceram, deixaram o cabelo horripilante voar livre no vento e distenderam as garras sobre os rochedos. Já não queriam seduzir, desejavam apenas capturar, o mais longamente possível, o brilho do grande par de olhos de Ulisses.

Se as sereias tivessem consciência, teriam sido então aniquiladas. Mas permaneceram assim e só Ulisses escapou delas.

De resto, chegou até nós mais um apêndice. Diz-se que Ulisses era tão astucioso, uma raposa tão ladina, que mesmo a deusa do destino não conseguia devassar seu íntimo. Talvez ele tivesse realmente percebido - embora isso não possa ser captado pela razão humana - que as sereias haviam silenciado e se opôs a elas e aos deuses usando como escudo o jogo de aparências acima descrito.

Franz Kafka
Tradução de Modesto Carone

Das coisas

quinta-feira, setembro 24, 2009

A loira mais morena da história

Marlene Dietrich at home, c. 1932. - Image courtesy mptvimages.com

Marlene Dietrich, c. 1960. Photo by Paul Hesse



Ainda pouco uma amiga (que é design) me perguntou se eu guardo brinquedos da infância. E eu respondi que não. Ela: nem o Ken? Eu: não...eu nunca tive uma Barbie.

E confesso que nunca me fez falta. Briquei muito com o Diaijow e brincadeiras de rua como pique-bandeira, pique-esconde, etc...

segunda-feira, setembro 21, 2009

Eu não me lembro...

Danny Torrance: Tony.
Dick Hallorann: Who's Tony?
Danny Torrance: Tony is a little boy that lives in my mouth.
Dick Hallorann: Is Tony the one that tells you things?
Danny Torrance: Yes.
Dick Hallorann: How does he tell you things?
Danny Torrance: It's like I go to sleep, and he shows me things. But when I wake up, I can't remember everything.

The Shining

Concrete


Well I hear you're driving someone else's car now
she said: she came and took your stuff away
all the poetry and the trunk you kept your life in
I knew that it would come to that someday.
like a sad hallucination
when I opened up my eyes
the train had passed the station
and you were trapped inside
and I never wondered where you went,
I only wondered why, I wondered why...


domingo, setembro 20, 2009

O óbvio

Quinta-feira passada assisti uma entrevista do Bob Geldof, idealizador do Band Aid, na Globo News. Sinceramente não sei dizer se a tal entrevista era ou não uma reprise, mas isso não importa. Em pouco tempo, Geldof foi do 8 a 80, com pensamentos claros e simples. Todo mundo conhece a luta dele pelos desfavorecidos ao redor do mundo. Outros artistas (de Hollywood, inclusive) tentaram e tentam imitá-lo nessa empreitada. O fato é que ele mencionou, mais uma vez, o descaso das autoridades, e os diferentes níveis da pobreza nos continentes em que já visitou. O músico não quis desmerecer o Brasil, mas disse que a nossa bagunça era 'organizada' aos seus olhos e que os nossos recursos eram vastos o bastante para que não havessem (possíveis) estravios do dinheiro público ou mesmo dessa mentalidade, arcaica, de se levar vantagem em tudo. Talvez ele tenha razão. Comentou que as nossas favelas - ele visitou a Rocinha e uma outra que esqueci o nome - têm um bom cheiro, o esgoto funciona, existe uma organização interna que permite o funcionamento do comércio em grande escala, como um bairro comum de uma cidade qualquer... Diferente da África, ressaltou, onde os pobres são miseráveis e vivem como bichos aos olhos do poder público. Mesmo fazendo observações, ele se desculpou inúmeras vezes por entender que o olhar dele era um olhar externo, de quem não tinha a vivência do lugar. Não lembro exatamente qual foi a pergunta do entrevistador, embora não me saia da cabeça a resposta do entrevistado. Em um determinado momento, Bob Geldof disse que não entendia a lógica da justiça da vida. Ele que se empenhara tanto em salvar vidas e dar melhores condições aos pobres do mundo, pagou um preço muito alto por tamanha bondade e dedicação: perdeu a família. A esposa de Geldof não aguentou a ausência dele e se apaixonou por outro, saindo de casa com os filhos. E ele ficou só. Revoltado, buscou respostas em estudos universitários que pudessem ajudá-lo a se manter equilibrado. Ele pirou um pouco nessa época. O que mais me impressionou nessa história toda, foi a inversão de prioridades. O homem que estava disposto a salvar o mundo não pôde salvar a sua própria família. Por mais que os olhos do músico e ativista vissem o horizonte, não era lá que os pés dele alcançavam. Ele pisava aqui e (no máximo) ali. Geldof cuidou do mundo como ninguém, mas se esqueceu de dar assistência ao que parecia ser o mais óbvio: as pessoas ao seu redor.

sábado, setembro 19, 2009

Death Becomes Her



É uma pena que este elixir não exista...

O brilho da lua...

Algumas (sábias) palavras de Hafiz: clique aqui.

Grupo Galpão




Apresentação do grupo de teatro de rua na Lagoa Rodrigo de Freitas, RJ.

quinta-feira, setembro 17, 2009

Dance with me



Vídeo fofis.


Meu  resolveu dar problema. Só me faltava essa...

sábado, setembro 12, 2009

Meninas...



Glamour? EVER.

A mudança

O passado guardado em caixas: vida nova, tudo novo. Era exatamente assim que João encarava seus novos dias. Encaixotava caixa por caixa guardando uma vida que não era a vida dele. Passara dois anos naquele lugar dividindo o espaço com um velho tio doente que se fora, e agora ele estava só. Todos aqueles pertences não faziam o menor sentido. João começou a organizar a mudança: cada caixa trazia junto um pensamento que ele empacotava e empilhava num canto da sala. A medida que o tempo passava não só os cômodos ficavam mais livres com o espaço, mas ele cansado, também se aliviava de algumas mazelas e incertezas. Sozinho dentro daquele apartamento de três quartos, sentado no chão e sem conforto algum, imaginava uma vida melhor a partir daquele ponto: a mudança da mente. Às vezes é preciso mudar de lugar para mudar a ordem do que vem por dentro do pensamento. Esteve sozinho muito tempo. Imaginou tantas coisas boas e ruins e agora...João. Apenas o João na sala, no quarto, na cozinha, no banheiro, na vida. Em um descuido de principiante, João esqueceu de separar suas próprias lembranças que gostaria - no fundo, no fundo - de preservar. Encaixotou junto com os outros pacotes (sorrindo) suas crenças e amores. Ele começou de novo. Vida nova!

(Adriana Schimit in Contos para Ninguém)

sexta-feira, setembro 04, 2009

Das coisas da Vida

Infelizmente não é possível preencher com pessoas cada segundo da vida. A solidão parece um pano de fundo, um wallpaper divino. Será que Deus não percebe que nem sempre é bom ficar comigo mesma?

Qual a definição de 'coragem' para vc?



*

Do tempo

Rio de Janeiro, 01/09/2009.

Olá, XXXXXX!
Quanto tempo...

Tudo bem com vc? Aqui está tudo certo. Tenho feito alguns planos para o fim do ano (e o início do próximo), foi quando bateu uma nostalgia esquisita, sabe. Passei a tarde inteira recordando os meus planos de infância. Naquela época eu já havia decidido tudo o que seria hoje: vida estabilizada, quem sabe já com filhos, casa própria - vida de gente grande, novela das oito. Essa nostagia também acontece porque planejo uma mudança. Até mudar um vaso de flores de um canto para outro da sala exige uma aceitação mental. Aliás, é quase isso. Mais do que o corpo, o espírito também precisa estar flexível em certas horas, é essencial. Sei que os planos de agora não vão trazer uma mudança imediata, do tipo 'ou dá ou desce', mas a questão é estar num ambiente diferente, com outra cultura, é outra história. Sim, vai ser bom mudar de ares, estar com a minha vibe em um outro canto do mundo aprendendo. Aprender é sempre o melhor de tudo que planejo: saber mais sobre mim, fato. Não é todo mundo que pode se dar o luxo de trocar o cenário da sua própria vida ou ter esse entendimento - mesmo que permaneça no mesmo lugar.

Aqui estamos. Tem horas que nada acontece, parece que precisamos "aguardar" alguma coisa que nunca chega. Isso me causa uma aflição... Claro que a vida da gente não pode ser um filme de ação, com direito a efeitos especiais de toda espécie, mas estar parado?(!) Não, eu não desejo isso nem para o meu desafeto - será que não? Pronto falei.

Mas voltando ao relógio, depressão deve ser isso: o tempo estático no coração, na vida, no trabalho. A pessoa enlouquece! Por que quando mais se precisa de pessoas, de uma palavra amiga, nada disso chega? Qual é o elo que une as pessoas? O amor? Talvez. Mas o ódio também pode unir se vc for pensar. É um misto, um mistério solitário. Energia deve ser isso, essa troca de vibes e de entendimento. Foi bom imaginar como seria o futuro naquela época. Lembro como se fosse hoje do orgulho que senti de todas as resoluções tomadas...hahaha...essas crianças!

(...)

(Adriana Schimit em Cartas para Ninguém)