terça-feira, outubro 28, 2008

Improvisou com restos de cinema e com seu amor, um disco voador

Eu estou sempre aqui, olhando pela janela. Não vejo arranhões no céu nem discos voadores. Os céus estão explorados mas vazios. Existe um biombo de ossos perto daqui. Eu acho que estou meio sangrando. Eu já sei, não precisa me dizer. Eu sou um fragmento gótico. Eu sou um castelo projetado. Eu sou um slide no meio do deserto. Eu sempre quis ser isso mesmo. Uma adolescente nua, que nunca viu discos voadores, e que acaba capturada por um trovador de fala cinematográfica. Eu sempre quis isso mesmo: armar hieróglifos com pedaços de tudo, restos de filmes, gestos de rua, gravações de rádio, fragmentos de tv. Mas eu sei que os meus lábios são transmutação de alguma coisa planetária. Quando eu beijo eu improviso mundos molhados. Aciono gametas guardados. Eu sou a transmutação de alguma coisa eletrônica. Uma notícia de saturno esquecida, uma pulseira de temperaturas, um manequim mutilado, uma odalisca andróide que tinha uma grande dor, que improvisou com restos de cinema e com seu amor, um disco voador.

Maria Bethânia - Odalisca Andróide / Tocando em frente


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segunda-feira, outubro 27, 2008

Impossível não acreditar em anjos, impossível...

Semana passada conversei, no trabalho, com uma senhora de 84 anos chamada Margot. Linda, delicada, discreta, de fala mansa, um doce! Me senti bem só de conversar amenidades com ela. Hoje ela voltou. Carregava um livro que tinha um título macabro nas mãos. Confesso que fiquei assustada e apreensiva, tanto que perguntei tentando disfarsar a minha preocupação: "Margot, querida, esse livro parece interessante, fala sobre o quê?" Ela mais do que depressa me narrou a sinopse empolgadíssima! E assim pude ficar mais tranquila com ela e o livro - as pessoas planejam coisas estranhas às vezes. A tarde, ela retornou para perguntar alguma bobagem, e me trouxe um cinto e dois livros de presente, um deles o Antes de Morrer, da escritora Jenny Downham - aquele com o nome macabro que me deixou apreensiva. Ainda acho que ela não leu o livro com o nome fatídico, mas quis me presentear porque gostou muito de mim. Como eu dela. Foi gratuito e visível - adoro senhorinhas do bem! Eu que estava meio "blau", parafraseando mon amour, mas fiquei feliz e serena depois do gesto delicado de Margot. Ela será queridíssima sempre! Um "viva" para Margot: Viva!

U2: Stay - Faraway, So Close (live in Boston)

terça-feira, outubro 21, 2008

Favelados



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sábado, outubro 18, 2008

Levanta-te e anda!


Kylie Minogue - Wow

Muito cansada: qualquer dia desses minhas pernas e os meus pés não responderão ao meu chamado...
;-)

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quinta-feira, outubro 16, 2008

"Meu coração embora finja fazer mil viagens, fica batendo parado naquela estação"...

Relógios, relógios: são armas ferozes contra e a favor do tempo. Mas qual relógio poderia registar o tempo com mais fidelidade: aquele que atrasa um minuto por dia ou aquele que não funciona mais? Quem já esperou muito por alguém/ ou alguma coisa tem a resposta na ponta da língua. O relógio que atrasa um minuto por dia, por exemplo, dá a hora exata de dois em dois anos. Isso porque diante do atraso de um minuto por dia, ele só voltará a estar certo depois de atrasar doze horas - o que acontecerá no fim de 720 dias. Já o relógio parado estará certo duas vezes em cada vinte e quatro horas. Por isso, é certo dizer, neste caso, que o relógio que melhor regista o tempo é o que está parado.


"A Lebre de Março pegou no relógio e olhou-o com um ar tristonho. Depois, mergulhou-o na chávena (xícara) cheia de chá e voltou a olhar para ele. Mas não sabia dizer mais nada senão repetir:
- Era manteiga da melhor qualidade.
Alice estivera a observar o relógio por cima do seu ombro com alguma curiosidade.
- Que relógio tão engraçado! Indica o dia do mês mas não indica as horas! - comentou.
- Por que haveria de fazê-lo? - disse o Chapeleiro entre dentes.
- O teu relógio indica o ano em que estamos? - perguntou o Chapeleiro.
- Claro que não! - respondeu Alice muito depressa.
- Mas isso é porque um ano inteiro dura muito tempo - justificou Alice.
- O que é exactamente o caso do meu! - disse o Chapeleiro."
(Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll)

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domingo, outubro 12, 2008

Farinha pouca...

Meu pirão primeiro

É engraçado o conceito de respeito hoje em dia. Neste domingo, por exemplo, desde às 16h, vários trios elétricos - dizem que uns 20 - estão propagando o fim da homofobia em Copacabana, munidos com um som de boate ensurdecedor. Confesso que este não é nem de longe o meu estilo musical preferido, mas este não é o caso. O caso é que acordo cedo para trabalhar, como muita gente neste bairro, todos os dias. Chego exausta em casa no fim de tarde, tomo um banho, leio alguma coisa, às vezes almoço e vou para a segunda etapa do meu dia: estudar. Durante a semana o meu tempo é muito corrido. Amanhã, tenho prova. Prova cascuda, dessas que é preciso concentração e boa leitura, além de uma fixação das idéias chave, sabe?! Não vai dar pra fazer 'nas coxas'. Mas com este som alto, não dá! Eu não consigo ouvir nem os meus pensamentos! Homofobia?! E a minha prova? As pessoas se atropelam por tão pouco...

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quarta-feira, outubro 08, 2008

It's Not The End of the World?


Super Furry Animals - It's Not The End of the World?

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terça-feira, outubro 07, 2008

Lista, lista, lista!

Nas férias passadas eu fiquei devendo aqui uma listinha de 20 filmes. Papo vai, papo vem, esqueci de postar a promessa - juro que não é coisa da idade! E como estamos vivendo dias de chuva, quase sempre o fim de semana fica comprometido com o edredom. "A boa" é alugar filmes, ficar queitinho em casa rodeado de muito sorvete e chocolate. Foi pensando nisso que resolvi desenterrar uma lista de filmes antigos, todos eles consagrados pelo público e crítica. Vale conferir:

1. Intriga Internacional (1959) Alfred Hitchcock
2. Crepúsculo dos Deuses (1950) Billy Wilder
3. Os Incompreendidos (1959) François Truffaut
4. Cantando na Chuva (1952) Gene Kelly & Stanley Donen
5. Janela Indiscreta (1954) Alfred Hitchcock
6. A Marca da Maldade (1958) Orson Welles
7. Os Esquecidos (1950) Luis Buñuel
8. Um Corpo que Cai (1958) Alfred Hitchcock
9. Noites de Cabíria (1957) Federico Fellini
10. Pacto Sinistro (1951) Alfred Hitchcock
11. Rastros de Ódio (1956) John Ford
12. Juventude Transviada (1955) Nicholas Ray
13. Maldição (1950) Fritz Lang
14. Rashomon (1950) Akira Kurosawa
15. Morangos Silvestres (1957) Ingmar Bergman
16. Hiroshima, Mon Amour (1959) Alain Resnais
17. Glória Feita de Sangue (1957) Stanley Kubrick
18. Sindicato de Ladrões (1954) Elia Kazan
19. Onde Começa o Inferno (1959) Howard Hawks
20. A Estrada da Vida (1954) Federico Fellini

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segunda-feira, outubro 06, 2008

Espetacular

Pop Tops - Mamy Blue


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43

"A diferença entre uma democracia e uma ditadura consiste em que numa democracia se pode votar antes de obedecer as ordens." Charles Bukowski
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sábado, outubro 04, 2008

O poço

Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras da tua existência.
Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?
Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.
Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.

Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.
Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.
Pablo Neruda

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