sábado, janeiro 30, 2010

Paciência, é você?


Estragon - Espere! Eu me pergunto se não teria sido melhor que a gente tivesse ficado sozinho, cada um por si. Nós não fomos feitos para a mesma estrada.
Vladimir - Isso nunca se sabe.
Estragon - Não, nunca se sabe nada.
Vladimir - Nós ainda podemos nos separar; se você achar melhor.
Estragon - Agora é tarde demais.
Vladimir - É, agora é tarde demais.
Estragon - Então, vamos?
Vladimir - Vamos.


(Em cena: Gianfrancesco Guarnieri e Raul Cortez)

(Esperando Godot, Samuel Becket, 1949)

Os especiais

E e se todas as pessoas fossem (realmente) diferentes, o que seria do mundo? Mas é exatamente assim que a banda toca para muita gente 'desavisada'. Claro que cada pessoa carrega uma característica que a diferencia das outras, mas totalmente diferente? Hummm, não sei não. Existe? Hoje em dia todo mundo quer ser 'especial' de alguma forma. Todo mundo 'se acha' e, por isso, se julgam no direito de não pagar uma entrada de boate, por exemplo, ou mesmo não enfrentar uma fila, ou ainda esperam ser reconhecidos pelo esforço que fizeram para construir uma imagem 'legal'. Todos querem exclusividade nisso ou naquilo - até com amigos tem gente que busca o tratamento diferenciado. É tudo-uma-putaria-uma-palhaçada.

(Photograph Colin Hattersley)

O ser humano de hoje não dá folga para o simples, o comum, o ordinário - que é também belo à sua medida. As coisas têm proporção, hora, lugar para acontecerem. Infelizmente não vejo espaço para tanta diferença de egos, tantos julgamentos e competitividade sobre aparência, status e afins. Cansa ficar no meio desse fogo cruzado e às vezes até se confundir pensando se este tipo de conduta é certa ou errada. Mas não é legal pensar nisso, desgasta ainda mais a ânima pessoal. Indo mais a fundo, eu diria que as pessoas desaprenderam até a falar umas com as outras. Desaprenderam a gentileza, a camaradagem. É tudo 'toma-lá-dá-cá'. A falta de paciência e briga de egos também pode ser percebida nas nossas relações mais estreitas, assim como amigos íntimos e família. Isso desnorteia um ser humano comum, sabe. Os valores que dignificam alguém ficam confusos à medida que estes pequenos desentendimentos e faltas acontecem neste círculo fechado de entes queridos. E por onde andará o comum, o simples, as coisas do cotidiano? No brejo ficou a vaca, disso eu sei. Aliás, existem tantos 'diferentes' em um mesmo círculo de convivência que a cada dia que passa está mais difícil de lidar com as necessidades e egos individuais cada vez mais acentuados dessas celebridades concebidas em redes sociais. E quer saber? (risos) Tenho certeza que você sabe.
*

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Arrasa, arrasa-da

Muito tempo sem postar aqui. Aliás, ideias não faltam, mil e um assuntos, mas e o tempo e a coragem? Feio admitir isso em público, não é?  Mas, olha, essa é a mais pura verdade. Tinha umas coisas para falar sobre amizades, supresas, vida noturna, tolerância, mas vai ficar pra próxima - com certeza. Acabo de chegar cansada do trabalho e tal, mas fuxicando no twitter vi uma tirinha tão bacana dos Malvados que resolvi postar: sorte nossa! :-) Beijos e se cuidem.


quarta-feira, janeiro 06, 2010

Amanhecendo

A definição do tempo como uma forma inevitável de espera, isto é, este tempo como responsável pela transcrição e pela possibilidade do desenrolar da história particular de cada um de nós de forma simples e objetiva, nos conduzindo a uma reflexão sobre a nossa identidade e utilidade dos objetos que nos cercam. Vladimir, personagem de Beckett em Esperando Godot, canta sua canção que enfatiza esta sua ideia de tempo cíclico. Ele também dialoga com Estragon sobre o tema:

“Vladimir: Esperamos Godot.

Estragon: Estás certo. (Vladimir retoma o seu ir e vir.) Você não consegue ficar quieto?

Vladimir: Estou com frio.

Estragon: Chegamos cedo demais.

Vladimir: Sempre ao anoitecer.

Estragon: Mas a noite cai.

Vladimir: Ela vai cair de repente como ontem.

Estragon: E, então, será noite.

Vladimir: Dai vamos poder sair.

Estragon: E então, será de dia de novo. (Pausa.) O que devo fazer?"

(...)

“Vladimir: Cuando lo pienso... desde entonces... me pregunto... qué hubiera sido de ti... sin mí... (Decidido.) Sin duda, a estas horas, serías ya un montoncito de huesos.

Estragón (Profundamente enojado.): ¿Algo más?

Vladimir: Es demasiado para un hombre solo. (Pausa. Con vivacidad.)

É tudo novo de novo

"Se os fatos me desmentem, pior para os fatos." 
(Nelson Rodrigues)

Ontem assisti uma entrevista do Gay Talese para o Roda Vida - um excelente programa de entrevistas do Canal Brasil, aliás. E neste programa, o escritor e jornalista pontuou algumas perspectivas humanas de forma simples e completa. Eu fiquei pasma! É, fiquei mesmo. Não saberia dizer como este senhor se comporta em casa. Também não saberia dizer se a vida é realmente espontânea para ele como ele mesmo justificou. O ponto é que fiquei encantada. Os astrólogos dizem que o meu signo, ascendente e lua sugerem alguém que faz planos e mais planos e que muda de opinião (constantemente) de acordo com a maré. Acho que - de certa forma - essa afirmação faz sentido. Gosto de fazer planos. Não aqueles planos soltos ou impossíveis como os do desenho Pink e o Cérebro. Não.



Quando penso em planos, hoje, procuro ser um pouco mais realista. Aprendi com o tempo que é preciso ter dinheiro para concretizar alguns sonhos. Isso é péssimo para o sonhador, mas é desta forma que a banda toca: é preciso money, mufunfa, o faz-me-rir, o cascalho. Todo início de ano é a mesma coisa: a vibe de positividade me invade, acho que tudo de bom vai rolar, que 'desta vez vai'. Mas pra falar a verdade, ano passado e o retrasado eu não senti isso de forma completa. Talvez porque estivesse triste, descompensada. De uns tempos pra cá tenho me sentindo mais eu, mais meus planos, mais a mão na massa - período em que me encontro agora. Aliás, eu tenho acreditado que alguma coisa vai mudar (pra melhor) pra ontem. No fundo, no fundo, talvez seja apenas algum tipo de pensamento compensatório pelo tempo que fiquei só levando lambada, alguns 'quem sabe?', vários nãos e pelas esperas intermináveis de situações que nunca chegaram a se definir. "O que não se define, definido está", já dizia o ditado. Pra mim, se me perguntarem 'como vai ser este seu ano, Adriana?', a resposta já está na ponta da língua, afiadíssima: agora é a minha vez!

"Eu não tenho nada/ Quero ver Irene rir/ Quero ver Irene dar sua risada." http://bit.ly/5XroZ6