domingo, setembro 20, 2009

O óbvio

Quinta-feira passada assisti uma entrevista do Bob Geldof, idealizador do Band Aid, na Globo News. Sinceramente não sei dizer se a tal entrevista era ou não uma reprise, mas isso não importa. Em pouco tempo, Geldof foi do 8 a 80, com pensamentos claros e simples. Todo mundo conhece a luta dele pelos desfavorecidos ao redor do mundo. Outros artistas (de Hollywood, inclusive) tentaram e tentam imitá-lo nessa empreitada. O fato é que ele mencionou, mais uma vez, o descaso das autoridades, e os diferentes níveis da pobreza nos continentes em que já visitou. O músico não quis desmerecer o Brasil, mas disse que a nossa bagunça era 'organizada' aos seus olhos e que os nossos recursos eram vastos o bastante para que não havessem (possíveis) estravios do dinheiro público ou mesmo dessa mentalidade, arcaica, de se levar vantagem em tudo. Talvez ele tenha razão. Comentou que as nossas favelas - ele visitou a Rocinha e uma outra que esqueci o nome - têm um bom cheiro, o esgoto funciona, existe uma organização interna que permite o funcionamento do comércio em grande escala, como um bairro comum de uma cidade qualquer... Diferente da África, ressaltou, onde os pobres são miseráveis e vivem como bichos aos olhos do poder público. Mesmo fazendo observações, ele se desculpou inúmeras vezes por entender que o olhar dele era um olhar externo, de quem não tinha a vivência do lugar. Não lembro exatamente qual foi a pergunta do entrevistador, embora não me saia da cabeça a resposta do entrevistado. Em um determinado momento, Bob Geldof disse que não entendia a lógica da justiça da vida. Ele que se empenhara tanto em salvar vidas e dar melhores condições aos pobres do mundo, pagou um preço muito alto por tamanha bondade e dedicação: perdeu a família. A esposa de Geldof não aguentou a ausência dele e se apaixonou por outro, saindo de casa com os filhos. E ele ficou só. Revoltado, buscou respostas em estudos universitários que pudessem ajudá-lo a se manter equilibrado. Ele pirou um pouco nessa época. O que mais me impressionou nessa história toda, foi a inversão de prioridades. O homem que estava disposto a salvar o mundo não pôde salvar a sua própria família. Por mais que os olhos do músico e ativista vissem o horizonte, não era lá que os pés dele alcançavam. Ele pisava aqui e (no máximo) ali. Geldof cuidou do mundo como ninguém, mas se esqueceu de dar assistência ao que parecia ser o mais óbvio: as pessoas ao seu redor.