If you want a guarantee, buy a toaster. #ClintEastwoodDay
segunda-feira, maio 31, 2010
terça-feira, maio 25, 2010
Motivo, Ser & Estar
Foto: Adriana Schimit - Vista do Crown Metropol
Mas voltando ao fato do desconhecido, só a ação de se mover de um ponto a outro do planeta já faz com que uma pessoa comum seja tomada por uma sensação grandiosa, que ela é incapaz de mensurar, de descrever quando ela tenta explicitar detalhes da sua experiência.
É como ver o oceano pela primeira vez - ou pela última. Existe uma ponta do desconhecido que nos joga além, que nos faz felizes, é por aí. Vários motivos levam o ser humano a mudar de lugar ao longo da vida. Vários. Talvez o maior deles seja, seja...qualquer motivo soaria tão particular, isso porque
segunda-feira, maio 24, 2010
Amigos & Solidão
Clarice Lispector entrevista Nelson Rodrigues:
É surpreendente como Nelson consegue captar - em palavras - o que a gente só percebe na intuição e cala. Segue um trecho da conversa:
- Nelson, você se referiu à solidão. Você se sente um homem só?
- Só ponto de vista amoroso eu encontrei a Lúcia. E é preciso especificar: a grande, a perfeita solidão exige uma companhia ideal.
- Ah, Nelson, isto é tão verdadeiro.
- Mas, diante do resto do mundo eu sou um homem maravilhosamente só. Uma vez fiquei gravemente doente, doente de morrer. Recebi em três meses de agonia, três visitas, uma por mês. Note-se que a minha doença foi promovida em primeiras páginas. Aí, eu sofri na carne e na alma esta verdade intolerável: o amigo não existe.
- Nelson, como consequência do meu incêndio, passei quase três meses no hospital. E recebia visitas até de estranhos. Eu não sou simpática. Mas o que é que eu dei aos outros para que viessem fazer companhia? Não acredito que não se tenha amigos. É que são raros. Ou eu dou muito pouco ou os outros não aceitam o que eu tenho para dar.
- Mas você tem sucesso real - e sucesso real vem quando se dá alguma coisa aos outros. Você dá. Certa vez fui a uma capelinha ver um colega morto. Eram duas da manhã. Uma mocinha saiu do velório ao lado com um caderninho na mão. Fez uma mesura para mim e disse: "quero ter a honra de apertar a mão do autor de A vida como ela é". E me pediu um autógrafo. Eu senti que estava vivendo um momento da pobre ternura humana. Eis o que eu queria dizer: o amigo possível e certo é o desconhecido com que cruzamos por um instante e nunca mais. A esse podemos amar e por esses podemos ser amados.. O trágico na amizade é o dilacerado abismo da convivência.
***
É surpreendente como Nelson consegue captar - em palavras - o que a gente só percebe na intuição e cala. Segue um trecho da conversa:
- Nelson, você se referiu à solidão. Você se sente um homem só?
- Só ponto de vista amoroso eu encontrei a Lúcia. E é preciso especificar: a grande, a perfeita solidão exige uma companhia ideal.
- Ah, Nelson, isto é tão verdadeiro.
- Mas, diante do resto do mundo eu sou um homem maravilhosamente só. Uma vez fiquei gravemente doente, doente de morrer. Recebi em três meses de agonia, três visitas, uma por mês. Note-se que a minha doença foi promovida em primeiras páginas. Aí, eu sofri na carne e na alma esta verdade intolerável: o amigo não existe.
- Nelson, como consequência do meu incêndio, passei quase três meses no hospital. E recebia visitas até de estranhos. Eu não sou simpática. Mas o que é que eu dei aos outros para que viessem fazer companhia? Não acredito que não se tenha amigos. É que são raros. Ou eu dou muito pouco ou os outros não aceitam o que eu tenho para dar.
- Mas você tem sucesso real - e sucesso real vem quando se dá alguma coisa aos outros. Você dá. Certa vez fui a uma capelinha ver um colega morto. Eram duas da manhã. Uma mocinha saiu do velório ao lado com um caderninho na mão. Fez uma mesura para mim e disse: "quero ter a honra de apertar a mão do autor de A vida como ela é". E me pediu um autógrafo. Eu senti que estava vivendo um momento da pobre ternura humana. Eis o que eu queria dizer: o amigo possível e certo é o desconhecido com que cruzamos por um instante e nunca mais. A esse podemos amar e por esses podemos ser amados.. O trágico na amizade é o dilacerado abismo da convivência.
***
domingo, maio 23, 2010
Poema da Necessidade, por Tom Jobim
É preciso casar João,
é preciso suportar, Antônio,
é preciso odiar Melquíades
é preciso substituir nós todos.
É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.
É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbado,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.
É preciso viver com os homens
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar O FIM DO MUNDO.
(Carlos Drummond de Andrade)
sábado, maio 22, 2010
Foto: Brighton Beach Gardens por Adriana Schimit
Poema do silêncio
(José Régio)
Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.
Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.
Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!
Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...
O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.
Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!
Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.
Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!
Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.
Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!
Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.
Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...
Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...
Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.
quarta-feira, maio 19, 2010
Mudanças
Fiquei sem postar aqui por um tempo. Pois é, muita coisa aconteceu nessa minha mudança de país - a mais significativa delas foi eu ter me casado. Sim, casado. Foi tudo muito lindo, apesar da ventania e do frio que abateu o dia. Mas foi perfeito no que era pra ser.
Estou mais no twitter pela facilidade da postagem via celular, entende? Aliás, este blog foi indicado (de novo!) ao Prêmio Top Blog. Achei besteira fazer campanha por votos, já que não tenho tanto tempo quanto antes...
Juro que estou mais presente no Twitter. Nos vemos por lá! Beijocas!
@schimitfacts
@schimitfacts
@schimitfacts
@schimitfacts
@schimitfacts
Muito certo
“A multidão das ruas já tem, por si só, algo de repugnante, que revolta a natureza humana. Essas centenas de milhares de pessoas, de todas as condições e de todas as classes, que se apertam e se empurram, não são todas elas seres humanos, possuindo as mesmas qualidades e capacidades e o mesmo interesse na busca da felicidade? E não devem finalmente buscar essa felicidade pelos mesmos meios e procedimentos? E no entanto essas pessoas se cruzam correndo, como se nada tivessem em comum, nada a fazer juntas; e no entanto a única convenção entre elas é o acordo tácito segundo o qual cada um mantém a sua direita na calçada, afim de que as duas correntes de multidão que se cruzam não se empatem mutuamente; e no entanto, não vem à mente de ninguém conceder ao outro ao menos um olhar. Essa indiferença brutal, esse isolamento insensível de cada indivíduo no seio de seus interesses particulares são tanto mais repugnantes e ferinos quanto maior é o número de indivíduos confinados num espaço reduzido. E mesmo se sabemos que esse isolamento do indivíduo, esse egoísmo estreito são em toda parte o princípio fundamental da sociedade atual, eles não se manifestam em nenhum lugar com uma impudência, uma segurança tão totais quanto aqui, precisamente, na multidão da grande cidade. A desagregação da humanidade em mônadas, cada uma das quais tem um princípio de vida particular, essa atomização do mundo é aqui levada ao extremo”. [ENGELS, F. "Die Lage der arbeitenden Klasse in England". In: INSTITUT FÜR MARXISMUS-LENINISMUS BEIM ZK DER SED (Org.). Marx Engels Werke. Vol.2. Berlin: Dietz, 1956, p.257]