sábado, novembro 07, 2009

Quem conta um conto...


No centro do jardim crescia uma roseira carregada de rosas e, à sua sombra, vivia um caracol que tinha muito dentro de si – aliás, literalmente falando, tinha mais dele mesmo.

- Paciência! – dizia o caracol. Há de chegar a minha hora. E vou fazer muito mais do que dar rosas ou avelãs, e mais ainda do que dar leite como fazem as vacas e as ovelhas.

- Espero muito de você, Caracol. – dizia a roseira. Aliás, acho que cabe aqui uma pergunta bem pessoal: quando você vai poder me mostrar o que realmente é capaz de fazer?

- Calma! – respondeu o caracol. Você é sempre tão apressada, Roseira. Não é assim que se preparam as boas surpresas.

Um ano mais tarde, o caracol estendia-se ao sol quase no mesmo lugar onde estivera no ano anterior, enquanto a roseira se afadigava em criar novos botões e a manter todas as rosas. O caracol pôs meio corpo fora da carapaça, estendeu os pauzinhos e voltou a recolhê-los.

- Nada de novo – disse o Caracol. Não se vislumbra progresso algum.

Passou o Verão e chegou o Outono. E a roseira continuou a dar novos botões e novas rosas. Até que a neve começou a cair e o tempo ficou húmido e frio. A roseira dobrou-se sobre a terra e o caracol escondeu-se no solo.

(Hans Christian Andersen in fragmentos do conto O Caracol e a Roseira).