sábado, maio 02, 2009

"Ela acordou cedo, tomou seu café preto com pão e sentou no sofá, onde permanceu esperando por ele. Entre conversas virtuais daqui e conversas virtuais acolá, ela resolveu que tinha que estar apresentável quando o momento de vê-lo chegasse. Correu para o banheiro, lavou o rosto com sabão, esfregou bastante, o quanto pôde, e enxugou. Passou base e pó - e batom clarinho para dar um charme. Voltou para o sofá, e se sentou no mesmo canto onde costumava se acomodar todas as manhãs, todas as tardes e todas as noites. Entre uma música e outra, começou a cantar junto, a se alegrar por ela, pelo dia, pelo tempo que fazia lá fora: um sol arrasador, vibrava. Até que o telefone tocou. Era ele - se podia saber pelo brilho dos grandes olhos dela. Era ele do outro lado da linha, cansado. Com a voz embargada, o rapaz balbulciou alguma coisa que ela não pôde entender com precisão, só ouviu a pausa da respiração dele e em seguida, a seguinte frase: 'eu vou dormir, mulher'. Sem nenhuma outra resposta depois."

(Adriana Schimit in Contos Para Ninguém)