sábado, maio 16, 2009

Contra o Tempo


Rita Ribeiro em Contra o Tempo

Outro dia vi um filme - sim, porque agora é o que mais faço nessa vida, depois, é claro, de estudar - chamado Then She Found Me, dirigido e protagonizado pela Helen Hunt. A película é fraca, mas tem a temática super interessante. O filme conta a história de uma quarentona que se casa com seu melhor amigo - um cara com a 'síndrome de Peter Pan' - com quem deseja ter o seu primeiro filho. O barraco se arma quando ela é abandonada pelo marido dias depois do casamento. Em menos de um mês de separação ela perde a mãe e, de tabela, descobre que foi adotada. A mãe verdadeira é uma famosa celebridade da TV que está disposta a estreitar os laços de intimidade com a protagonista. Pois bem, temas como amor, falta de maturidade, filhos adotivos, também são abordados no relacionamento dela com os carinhas. Essa é a brecha para uma das maiores sacadas do filme. Helen Hunt depois de abandonada e triste, tenta aos poucos retornar a sua rotina, até que encontra um outro cara (que já tem duas filhas pequenas de um relacionamento anterior) com quem se identifica. Durante a maior parte do tempo rola o triângulo amoroso. Ui, ui! O cara com as filhas pequenas é aquele tipo de homem que se joga em tudo que faz e que só vê as consequências depois. O ex-marido-amigo-e-Peter-Pan é aquele que pensa demais e por isso não faz. Representa o tipo de homem que tem medo de dar qualquer passo e perder de vista os próprios pés, mas diz que a ama. E isso a confude. Já separados, Helen leva o seu peguete para uma festa em que a sua 'nova mãe', a celebridade da TV, é a homenageada. Ela bebe, ele também. Os dois conversam amenidades, quando ela confessa que nunca mais havia bebido daquela forma desde os tempos da escola. Ele ri e a incentiva a continuar a beber. Relaxa, diz. Eis que o telefone toca. Ela pede desculpas e atende, cortando o clima. Meio estranha ou seria constrangida ao atender, ela repete várias vezes o 'oi!'. Do outro lado da linha, o ex-marido-amigo-e-Peter-Pan. Ela pede licença e se retira para conversar com privacidade com ele - sem mencionar quem era a pessoa da ligação. O peguete aguarda. Ela caminha para o quintal da casa onde estava sem deixar de falar ao telefone em nenhum minuto sequer. O ex diz que sente muito a falta dela e que ama. Ela gela. Ela pede para que ele repita a última frase - aquela em que ele diz: eu te amo. Ele repete. Ela pede para que ele repita de novo. Ele repete. Ela fecha os olhos, respira fundo como se desejasse (dizer, fazer) alguma coisa e pergunta: me diga, e o que vc sente é o suficiente?

Ela só encontra o silêncio do outro lado da linha.

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