quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Deus nos livre do felizes para sempre

E não foram felizes para sempre. Não pelo menos como querem fazer entender todos os finais de contos de fadas, todos os filmes românticos de Hollywood. Estavam ambos cansados de saber que assim como não existem duendes, coelho da Páscoa e Papai Noel, não existem nem fadas, nem finais felizes que se congelam no tempo como na tela do cinema, aquele foco circular, com o mocinho e a mocinha se beijando ao centro, fade out e The End escrito logo abaixo. E graças a deus. Porque felizes para sempre é muito chato e só cabe quando a história já deu o que tinha que dar e perdeu o interesse, não tem mais material para pôr em livro ou virar roteiro e, se tivesse, ninguém aguentaria viver o resto da vida preso num seriado da HBO.

Foram felizes às vezes e muito, infelizes aqui e ali, ocasionalmente, mas jamais por estarem um ao lado do outro. Foram felizes cotidianamente, nas pequenas coisas que nem se sabe, mas que no final das contas são a base de tudo e determinam quem se é, nos fazem dormir sossegados e nos põe um brilho no olho que a gente não explica de onde vem. Foram felizes amiúde, nas coisas comezinhas, muito mais do que nas grandes ocasiões onde há qualquer coisa que paira exigindo grandes emoções, discursos enfáticos, arrebatamento absoluto. Foram felizes de olhar um para o outro sem precisar ou querer dizer nada, de achar aquele corpo tão íntimo e tão doce deitado ao lado, a meio da noite quando se sente frio. Foram felizes na cumplicidade inapreensível de compreender-se, de achar graça um do outro, de rir, de estar em paz, de dividir ordinariedades.

Foram felizes com sacrifícios e com medos, com grande coragem e com uma confiança construída todos os dias, mais e melhor. Porque só se é feliz assim, porque não existe outro jeito.

(Patrícia Antoniete)

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