domingo, setembro 21, 2008

Menino

"E agora: como se houvesse um Deus menino, igual ao que foste naquele tempo longe que ficou, decepando cotidianamente a tua cauda (para que a regeneres), criando circulos de fogo em torno de teu corpo (para que te mates), gotejando lentamente o sal sobre tua pele (para que te dissolvas), cravando-te espinhos (para que te contorças) e procurando-te com o bodoque e a pedra afiada (para que te esvaias em sangue) no meio desse mato de palavras onde procuras disfarçar teu medo."

"As pessoas suportam tudo, as pessoas às vezes procuram exatamente o que será capaz de doer ainda mais fundo, o verso justo, a música perfeita, o filme exato, punhaladas revirando um talho quase fechado, cada palavra, cada acorde, cada cena, até a dor esgotar-se autofágica, consumida em si mesma, transformada em outra coisa que não saberia dizer qual era." (Pela noite, Triângulo das águas)

"... o tempo que temos, se estamos atentos, será sempre exato." (in Cartas) Caio Fernando Abreu

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