terça-feira, abril 29, 2008

Salve, Papai Papudo!

Um dos meus escritores prediletos, Drummond, escreveu sobre o tempo dizendo: "vai se tornando o tempo estranhamente longo à medida que encurta. O que ontem disparava, desbordado alazão, hoje se paralisa em esfinge de mármore".

E ele tinha razão. Quando se espera é preciso que seja de longe, como uma vitrine. A espera deve acontecer apenas no coração.
Quem observa de perto, contando os minutos, se desespera e morre de aflição.

Se é preciso esperar que o tempo passe, antes, devemos esquecê-lo. Guardá-lo em uma gaveta, trancá-lo no quarto dos fundos. Porque nada que é real se apaga, por isso não devemos temer.

Na década de 80, a tv brasileira produziu personagens curiosos como a turma do Bozo, o palhaço do SBT. Cresci com ele cantando: "eu sou o palhaço, meu nome é Bozo. Bozo! Bozo! Vamos brincar!" Entre outras pérolas...

E nessa turma tinha um velhinho chamado Papai Papudo, cara esperto, sabia das coisas. Naquela época ele já ensinava sobre o tempo às crianças e despretensiosamente, perguntava: "crianças, que horas são?" Havia uma comoção no estúdio de gravação e em coro todas respondiam: "são 5 e 60!"

É preciso ser um Papai Papudo nessa vida, saber do mecanismo da hora, mas não contá-la. Não enquanto se espera...
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